Quatro meses depois de ser anunciado como secretário de cultura do governo de Pernambuco, o escritor Ariano Suassuna apresentou oficialmente o seu programa de governo em entrevista coletiva. A principal e única ferramenta da pasta é um circuito de aulas-espetáculo que terá sua própria participação acompanhado de uma equipe de artistas - assessores e o grupo Arraial, responsável pela parte musical. "Arte brasileira de qualidade, fiel às nossas raízes" (armorial) será o foco. Este é o programa de Suassuna para secretaria.
O escritor teve presença permanente no palanque de Eduardo Campos - PSB (neto de Miguel Arraes e atual governador) e que além da exposição da figura foi o "cantor" oficial de Madeira que Cupim não Rói de Capiba, tema da campanha. Ariano sinaliza na entrevista que o programa do circuito de aulas-espetáculo terá patrocínio do Funcultura o que de cara é ilegal já que a secretaria é a gestora do fundo de incentivos e como se já não bastasse o contribuinte bancar o salário do secretário e o da sua trupe de palco em palco.
O "programa" de governo apresentado por Ariano está longe de ser uma política pública para cultura. Uma cópia fiel do que já fez quando secretário no governo de Arraes, por sinal avaliado como a pior gestão na área, que culminou numa publicação de luxo sobre a armorial passagem do ícone da literatura. Palestras animadas é o que tem feito, profissionalmente, em eventos, universidades, teatro, televisão... Um show cênico. A aula-espetáculo consiste em uma contação de histórias, entremeando suas opiniões com causos populares e música armorial, por um cachê de 15 mil.
O chamado Movimento Armorial, na verdade não é um movimento e sim uma linguagem artística criada em 1970 por inspiração e direção de Ariano Suassuna, praticada por um grupo de adeptos (de pintar, de tocar, de dançar...). Segundo o criador, no armorial são duas principais preocupações: "lutar contra o processo de descaracterização da cultura brasileira e procurar uma arte erudita brasileira baseada nas raízes populares da nossa cultura". E é essa redoma que Ariano insiste reeditar no espaço público. Estética que nega o dinamismo da cultura, as influências e as culturas que emergem das massas.
Ariano fará, mais vez, da secretaria de cultura a sua ilha particular, a personalística e ariana ilha. Esquece que sob sua responsabilidade entre outros estão: a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, os Museus do Estado, Regional de Olinda, Arte Sacra, Imagem e Som e de Arte Contemporânea, a Casa de Cultura de Pernambuco, o Teatro Arraial, o Espaço Pasargada e Torre Malakoff, o Arquivo Público, o Funcultura, além de um setor de engenharia de restauro do patrimônio material e o de ações culturais que atende os municípios.
O que espera por Ariano? Nada menos que um complexo aparato, equipamentos e acervo patrimonial para administrar; diferentes estéticas artísticas urbanas que se misturam as culturas rurais; museus, centros e espaços culturais sem programa educacional; atualização tecnológica, investimento em arte pública, além da produção independente, literária, teatral, musical e de artes visuais. Interagir com inúmeros núcleos, associações e sindicatos de classe, festivais, forúns, conselho estadual de cultura e uma política pública a ser implantada para atender a demanda de públicos no acesso a cultura no Estado.
Se permanecer o equívoco restará ao setor , mais uma vez, conferir o fracasso anunciado.
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